O Caso para uma Liga dos Campeões Rara

Há oito anos, desenvolvo modelos preditivos para clubes da Premier League — focando em xG, intensidade de pressão e fadiga de jogadores. Mas ultimamente, estou simulando algo muito mais especulativo: e se a Liga dos Campeões da UEFA fosse um evento quadrienal, em vez do tradicional anual?

Sim, leu certo. Não todos os anos. A cada quatro.

Parece um sonho de torcedor — como perguntar se Messi ainda jogaria em 2030 — mas do ponto de vista dos dados, não é tão absurdo assim.

Por Que Isso Poderia Funcionar (Matematicamente)

Vamos encarar: sofremos com o cansaço da Liga dos Campeões. Desde 1992, houve 31 vencedores — um por ano. Em contraste, apenas três países conquistaram o Euro desde 1996.

Já há sinais de retorno decrescente. As audiências nos jogos eliminatórios caem até 18% em temporadas consecutivas (relatório Deloitte de análise de estádios, 2023), indicando saturação.

Agora veja os intervalos no calendário:

• 2025: Copa do Mundo de Clubes (formato novo)
• 2026: Copa do Mundo (global)
• 2027: Nenhuma competição europeia principal?
• 2028: Euro
• 2029: Nova Copa do Mundo de Clubes

Essa lacuna cria um espaço perfeito para reinventar a UCL como evento biennial ou até quadrienal.

A Vantagem Psicológica da Escassez

Não é só sobre agenda; é sobre percepção. A economia comportamental mostra que escassez aumenta valor percebido.

Pense no quanto mais intensas são as emoções olímpicas comparadas aos jogos regulares — mesmo com atletas igualmente talentosos. O mesmo vale aqui. Se ganhar a UCL não for possível todo ano, mas sim uma vez a cada quatro… cada jogo classificatório ganha peso real. A dramatização torna-se menos rotineira e mais ritualística — parecida com torneios nacionais. E vamos ser honestos: muitos clubes já mandam seus times melhores nas eliminatórias da UCL independente da posição na liga. Então por que não elevar essas apostas?

O Problema? Carga de Jogadores e Conflitos Globais

É claro que a realidade entra logo depois das ideias boas. O maior desafio? Carga física entre ciclos superpostos — sim, partidas internacionais podem colidir com semifinais da UCL neste novo modelo? Pense num meio-campista brasileiro disputando a Copa América em junho-julho… exatamente quando ocorreriam as semifinais da UCL? O risco de lesão ou esgotamento aumenta drasticamente sem estratégias rigorosas de rotação — e mesmo assim, dados mostram queda média de ~14% na performance durante torneios longos (Opta). Além disso: clubes fora das cinco principais ligas podem perder estabilidade financeira se não qualificarem anualmente pela classificação nacional. Paises mais pobres poderiam ver desigualdades crescerem sem apoio transitório nos planos reformistas — como aconteceu com as mudanças nos playoffs da EFL Championship na Inglaterra no último século. Não são ajustes pequenos — são mudanças estruturais que exigem investimento contínuo e consenso entre partes interessadas que atualmente não existem na governança do futebol. Pois bem… isso não quer dizer que não devemos sonhar grande às vezes.